Linha do Tempo

Acompanhe do lado esquerdo a versão de Georgeval sobre o que aconteceu no dia do incêndio que matou as duas crianças. Do lado direito está a linha do tempo formulada pelas autoridades a partir de laudos e de testemunhas.
Após buscar Kauã e Joaquim na escola, passar na igreja, em uma sorveteria e jantar na casa de um dos fiéis, o pastor George e os dois meninos chegam em casa. Ele dá banho nas crianças e as coloca para ver filme no escritório.

Imagens corroboram o relato do pastor de que ele teria chegado em casa com as crianças por volta das 22h30.
As mesmas câmeras mostram que alguém (não é possível visualizar quem seria nas imagens) abriu e fechou o porta-malas do veículo. Durante a perícia do carro, a polícia encontrou um galão vazio no porta-malas.
Joaquim, o filho mais novo, dorme durante o filme. Georgeval leva o menino, que tinha 3 anos, para o quarto e o deita na cama, na parte de baixo do beliche. Cobre a criança, liga a babá eletrônica e o ar-condicionado. Encosta a porta e volta para o escritório para continuar vendo TV.
Uma vizinha relatou à polícia ter ouvido gritos altos de crianças, que pareciam ser de desespero, vindos da casa do pastor Georgeval. Polícia acredita que, até esse horário, as crianças ainda estavam vivas.
O pastor chama Kauã, que tinha 6 anos, para dormir. Acompanha o menino até o quarto, onde ele sobe sozinho para o beliche de cima. O padrasto do menino faz uma oração e sai do quarto deixando a porta entreaberta.
Georgeval conta que foi dormir e demorou cerca de meia hora para pegar no sono.

Imagens mostram que as luzes da garagem são apagadas por volta desse horário.
O incêndio: Pastor diz que foi acordado pela babá eletrônica, de onde ouvia gritos das crianças: “Pai! Pai!”. Pela imagem no aparelho, ele conta que viu fogo no quarto. Correu para lá, empurrou a porta com as mãos, se deparou com muita fumaça e chamou pelas crianças. Georgeval diz que chegou a colocar a mão sobre o beliche das crianças, mas não conseguiu localizar os meninos. Em seguida, por conta do forte calor, se afastou e foi para a rua pedir socorro.
Às 2h22, as câmeras mostram fumaça saindo da casa, o que leva os peritos a estimar que a porta do quarto das crianças foi aberta às 2h20. Laudo cadavérico mostrou que elas estavam vivas quando o incêndio começou. Contudo, a posição dos corpos não sugere reação ou tentativa de fuga. Nesse momento, o pastor estava do lado de fora da casa, pedindo socorro a um veículo que passava. As câmeras mostram um carro parando.
Os bombeiros chegaram dez minutos após a abertura da porta do quarto pelo pastor. Segundo relatos da guarnição, não havia mais beliche, escrivaninha ou porta no quarto. Toda essa destruição em um curto intervalo de tempo “não é esperada em um incêndio ordinário”, diz o laudo.
Os bombeiros descartaram que o incêndio tenha começado em algum equipamento eletrônico. Informações da perícia apontam que o fogo foi provocado por ação humana com o uso de um agente acelerante derivado de petróleo. Não foi possível determinar qual exatamente foi o material.

O pastor alegou em entrevistas e para as autoridades policiais que acreditava que o fogo teria começado no aparelho de ar-condicionado do quarto das crianças.
Arte: Geraldo Neto • Ilustrações: Amarildo

Bombeiros que prestaram os primeiros-socorros no pastor ainda na madrugada do incêndio relataram que não havia queimaduras na pele ou nos pelos de Georgeval. Laudo apontou que o fogo na região da porta do quarto passou dos 500ºC, o que deveria ter causado queimaduras nos pelos do rosto e do corpo.

Georgeval disse que sofreu queimaduras nos pés e na mão ao tentar entrar no quarto em chamas para salvar os filhos. Chegou a aparecer com os membros enfaixados pouco depois do incêndio.